João da Cruz e Sousa (Dante Negro ou Cisne Negro)
Era filho de escravos que foram alforriados por seu senhor, o coronel (depois marechal) Guilherme Xavier de Sousa, de quem João da Cruz recebeu o último sobrenome e a proteção.
Ao ser vítima de racismo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, contribuindo também com o jornal Folha Popular.
Em fevereiro de 1893 publicou Missal (prosa poética) e, em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil – que se estendeu até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose.
Sua poesia, inicialmente, foi influenciada pelo Romantismo de origem contestadora de Castro Alves e pela ideia realista baseada na crítica social, carregada de impulsos pessoais e dos sofrimentos causados pela miséria, desprezo e condição social. No entanto, essas influências foram dando lugar à visão simbolista mais voltada à poetização de verdades existenciais subjetivas.
Suas obras são marcadas pela musicalidade (uso de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, ora pelo desespero, ora pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca – manifestada por sua condição racial e a tentativa de superá-la.
Há três fases na poesia de Cruz e Sousa – o “Cisne Negro” ou “Dante Negro”:
- A primeira fase corresponde aos livros Missal e Broquéis (1893), onde o poeta demonstra a dor e o sofrimento de ser negro, e os conflitos entre o transcendental e os apelos sensuais.
Percebe-se a utilização de recursos simbolistas pelo autor, tais como repetições, aliterações e sinestesias, buscando obter um efeito melodioso. Empregava também letras maiúsculas para expressar o absoluto (Mistério, Luz, Morte, Dor) e o vocabulário litúrgico para criar uma aura mística, misteriosa.